Fazer previsões sobre o futuro do trabalho é algo relativamente complexo pois, como vimos na prática com a pandemia, tudo pode mudar de uma hora pra outra e fazer qualquer previsão cair por terra. No entanto, números atuais já nos levam a algumas conclusões:
- A geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010) já representa 1/3 da população mundial e está iniciando sua entrada no mercado de trabalho;
- O U.S. Census Bureau indica que até o final deste ano 20% da força de trabalho dos Estados Unidos será de profissionais dessa geração e que em pouco tempo ela se tornará a força de trabalho majoritária (comportamento mundial);
- Se uma empresa quer se perpetuar ao longo dos próximos anos ela precisará continuamente contratar novos colaboradores, portanto, seu ambiente de trabalho precisa estar preparado para atrair e reter esses jovens talentos para garantir seu sucesso.
Diversos estudos já descrevem as palavras chaves que caracterizam o comportamento e expectativas dessa geração com relação ao mercado de trabalho:
- Diversidade
- Empatia
- Propósito
- Conectividade
- Inovação
- Fluência Digital
- Habilidades socioemocionais
- Trabalho remoto
- Agilidade
- Humanização
- Qualidade de vida
- Liderança Consciente
- Múltiplas carreiras
Falando especialmente sobre o recorte de diversidade LGBTQIAP+, de acordo com uma pesquisa da Gallup, nos últimos 8 anos houve um crescimento de 60% entre os americanos que não se identificam como heterosexuais. Esses percentuais variam bastante entre as gerações, confirmando que a geração Z é muito mais aberta a falar sobre isso do que qualquer outra geração.
À partir de dados como esse podemos concluir que as empresas estarão deixando milhares de candidatos qualificados fora de seus processos seletivos se não praticarem – e comunicarem – um compromisso com a diversidade e inclusão. Ou seja, se você precisará contratar profissionais da Geração Z, precisa de uma estratégia de D&I e precisa começar agora.
Analisando a minha evolução em conjunto com a transformação que o mercado de trabalho passou nos últimos anos, é incrível perceber o quanto viver essa diversidade me moldou como uma profissional melhor. No início da minha carreira eu nem fazia idéia disso, mas hoje consigo afirmar que trabalhar em um lugar que apoia a diversidade mudou a relação comigo mesma, com meu chefe e pares, me ajudou a ganhar mais segurança, a ser mais feliz, a me tornar uma pessoa mais empática, que trabalha melhor em equipe e que se esforça para devolver em produtividade o senso de pertencimento que recebo ao trabalhar em um ambiente acolhedor que me permite ser que eu sou de verdade.
Se eu pudesse enviar uma carta à Jaque de 2006, aquela menina interiorana, tímida e reservada que iniciava seu primeiro estágio do curso de engenharia, diria a ela que apesar das diversas incertezas e ansiedades que giravam em torno do fato de ser mulher e da sua orientação sexual, muitas mudanças e transformações aconteceriam, que o futuro do trabalho é muito mais colorido 🌈 e que apesar de ter saído de uma cidadezinha de 5 mil habitantes e de uma família extremamente católica (que atualmente a apoia incondicionalmente), os desafios pelo quais ela passou e as batalhas que ela decidiu enfrentar a tornariam uma pessoa muito orgulhosa da sua trajetória, conquistas e representatividade como mulher lésbica.
Hoje posso dizer com total segurança que nunca mais cogitaria trabalhar em um ambiente que não valoriza todas as dimensões de diversidade, que não pensa em estratégias para promover oportunidades de desenvolvimento iguais para as pessoas e que não permite que todos prosperem.
Sei que falo à partir de uma pequena bolha isolada e privilegiada e que infelizmente a grande parte das empresas ainda está distante dessa realidade que descrevo, que muitas delas ficam apenas no discurso e não colocam em prática as ações de diversidade e inclusão e que, pior ainda, algumas ainda nem se preocupam em mover o ponteiro da agulha nessa direção. Uma parte de mim ainda revive o que a Jaque de 2006 experienciava no mercado de trabalho, quando presencio minha namorada, nas reuniões por vídeo, não se sentindo confortável e segura ao explicar que a parede nova que surje atrás da sua tela é da casa em que agora moramos juntas – algo que com certeza seria comunicado confortavelmente se ela estivesse em um relacionamento heterossexual.
É por isso que sinto tão forte a responsabilidade de continuar usando minha voz para conscientizar, educar, sensibilizar, inspirar e provocar mais empresas e pessoas a avançarem nessa direção. Farei tudo que está ao meu alcance para não ter que esperar mais 10 ou 15 anos para escrever uma carta à Jaque de hoje contando que o futuro de outras pessoas e empresas também está mais colorido.
Geração Z, aguardo ansiosamente para ver o resultado dessa pressão positiva que vocês começam a impor ao mercado de trabalho, exigindo que as empresas se preocupem cada vez mais em traçar e implementar estratégias de diversidade e inclusão de forma massiva ❤️
– Jaqueline Mandelli
