O home office, agora muito mais comum do que dois anos atrás, está possibilitando que profissionais brasileiros de tecnologia trabalhem remotamente, de suas casas, para empresas no exterior. Os salários, pagos em moeda forte como dólar ou euro, atraem os candidatos e, como consequência desse movimento, ficou ainda mais difícil para as empresas nacionais recrutarem profissionais de tecnologia.
Não há uma só resposta para esse desafio. O salário, claro, faz diferença, mas não é só a remuneração que os profissionais de tecnologia levam em conta na hora de escolher um ou outro emprego. “Benefícios como flexibilidade de horário, trabalho remoto, compensação competitiva, participação de resultados e equipamentos são o básico”, diz Gleicon Moraes, vice-presidente de engenharia do Gympass. “Hoje em dia, as pessoas que são abordadas consideram fatores como crescimento, diversidade, compensação e cultura da empresa.”
O foco de Gleicon, nos últimos anos, tem sido a criação e o crescimento de times de engenharia de software. O que ele faz e percebe que funciona é ser transparente, e mostrar que o que está procurando é baseado no que ele sabe – e isso não é uma verdade absoluta. Diz ainda deixar claro aos candidatos que precisa de pessoas para ajudar a descobrir o que é preciso fazer, não para serem direcionadas.
5 fatores de decisão para os profissionais de TI
Para Maria Carolina Lacombe, vice-presidente e diretora de comunidade no Valor Capital Group, cinco aspectos são levados em conta pelo profissional de tecnologia atualmente na hora de aceitar uma nova vaga:
- Desafio intelectual do projeto com o qual será envolvido
- Perfil do time e da liderança
- Remuneração competitiva
- Regras de trabalho que envolvem liberdade e home office, por exemplo
- Cultura corporativa
“As empresas do portfólio do Valor Capital adotam medidas de retenção e atração de talentos de acordo com o nível do profissional”, explica. “Tem startups como Pipefy que criaram programas de treinamento interno para juniores ou programas de trainee. Outras que fazem parcerias com universidades fora de grandes centros como São Paulo. Para atrair o talento, precisa ser uma liderança de tech que sabia se comunicar e entender.”
Do outro lado dessa mesma moeda, Lacombe cita três aspectos que acabam afastando os profissionais de tecnologia:
- Cultura muito rígida e hierárquica
- Zero flexibilidade na forma de trabalho, como não poder atuar remotamente ou no modelo híbrido
- Falta de clareza no job description
Benefícios X promessas rasas
Gleicon pondera que essa questão varia dependendo da história de cada profissional. “Uma pessoa de um grupo pouco representado ou com dificuldades maiores em sua vida vai se afastar de empresas com promessas rasas – escorregador ou pufe colorido não significam muito para quem tem o risco real de não ser bem aceito em uma organização”, diz.
Além disso, ele pontua que o mercado está equilibrado, então qualquer discrepância em benefícios ou condições de trabalho jogam contra quem quer contratar logo nas primeiras etapas. “Eu faço mentoria para startups e vi algumas que estavam tão focadas em voltar ao escritório que não entendiam que isso fazia pessoas abandonarem o processo – além de fazer as pessoas que trabalhavam lá participarem de outros processos de seleção.”
A demora entre as etapas e a falta de feedback afastam as pessoas, na visão de Gleicon, e ainda criam um nome ruim – “as pessoas conversam e trocam experiência”.
Gleicon ressalta que nesse cenário tão desafiador existe um componente que é pouco discutido – os recrutadores. “São peças-chave para a empresa se conectar em comunidades, conhecer pessoas e trazer candidatos”, diz. “Seria impossível triplicar a equipe de engenharia como fizemos no Nubank ou crescer como no Gympass ou qualquer empresa que trabalhei sem uma conexão fortíssima entre o time todo de engenharia e o RH.”
A importância da consultoria no recrutamento de profissionais de tecnologia
Victoria Travaglini, da UNI.CO, diz que a consultoria pode levar alguns benefícios para o processo de seleção e recrutamento:
- Atrair o melhor candidato com a motivação correta
- Cuidar da experiência da pessoa candidata do início ao fim do processo
- Compartilhar conhecimento e comportamento de mercado com o cliente agregando de forma consultiva
- Apoiar o cliente quando ele mais precisa – alto número de contratações ou complexidade a serem preenchidas em curto espaço de tempo
“Muitos profissionais de tecnologia ou brasileiros em geral têm orgulho e querem trabalhar em uma startup brasileira, pois querem fazer parte da construção de um produto ou serviço local. São pessoas que focam bastante no propósito que irá ser entregue à nossa sociedade”, diz Travaglini.
Para encantar e, de fato, atrair esses profissionais, ela diz que é preciso fazer uma boa apresentação da empresa e também criar um plano de carreira, investir em inovação e tecnologia, construir um ambiente de trabalho humanizado e acolhedor, realizar trabalhos de aperfeiçoamento pessoal, dar atenção e escutar os colaboradores, dar mais autonomia, melhorar a comunicação interna e possibilitar algumas oportunidades únicas.
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