A Escola como ferramenta base de construção para o caminho da diversidade

É ineficaz nos preocuparmos apenas com a sensibilização, educação e transformação dos espaços corporativos, enquanto ainda não praticarmos a diversidade nas escolas.

Na última semana assisti a um vídeo nas redes sociais que deixou meu coração quentinho: adolescentes, entre seus 15 e 16 anos, mostrando que metade da sua turma de escola faz parte da comunidade LGBTQIAP+! Cada pessoa se apresentava no vídeo falando seu nome e orientação sexual de forma muito natural e tranquila, com uma leveza e sorriso no rosto nem sempre comuns em adolescentes. 

Com essas imagens fui transportada em um túnel do tempo pra minha época de escola: cidade muito pequena, onde todos se conheciam, minha mãe era professora e eu estudava em um colégio de Padres, ou seja, não havia a menor chance de eu, nos meus 14, 15 anos, me sentir confortável em falar sobre minha paixão platônica por uma das meninas que jogava basquete no time adversário da outra cidade. Inclusive, nem eu conseguia reconhecer e dar nome àquele sentimento, que se mesclava e era minimizado (muito provavelmente como um mecanismo de defesa) pela atração que também surgia pelos meninos, afinal essa não era uma pauta discutida em sala de aula. 

Mas foi inevitável não me imaginar ainda adolescente fazendo parte do vídeo dessa turma e me apresentando: 

— Oi, eu sou a Jaque e sou Bi (corta a cena com um sorrisão no rosto) 😊 Que libertador ver uma nova geração podendo viver isso!

Poucos dias depois desse vídeo e dessas memórias, uma amiga me relatou que sua sobrinha de 12 anos estava passando por um momento muito complicado na escola e também em casa. Em uma excursão do colégio da qual ela não participou, duas de suas melhores amigas revelaram que seu crush era uma outra menina da escola. Como já era de se esperar, no dia seguinte o assunto foi monotemático: todos os olhares e comentários a rodeavam sobre essa atração não seguir a regra da heteronormatividade.

A menina ficou furiosíssima e brigou com as melhores amigas, que traíram sua confiança ao relevar essa informação tão íntima. O conflito não foi banal e chegou à diretoria, que resultou em seus pais sendo chamados no colégio. Infelizmente, os pais ficaram coléricos com o fato da filha ter uma atração por outra menina e agora o climão havia se instaurado em casa também. Fico angustiada só de pensar no turbilhão de emoções que essa adolescente de 12 anos está tendo que gerenciar. 

A escola e a família são as duas instituições principais que moldam as experiências de vida de crianças e adolescentes: devido a essa importância, a escola deve estar preparada para acolher e orientar os alunos mas ainda há muito a ser superado pelo sistema educacional para que as políticas públicas de gênero e sexualidade sejam efetivadas.

Diversidade nas escolas faz parte do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos

Em 2007, o Comitê Nacional de Educação e Direitos Humanos apresentou no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos sua concepção sobre os objetivos do Ensino Fundamental, dentre eles: 

1) A escola, como espaço privilegiado para a construção e consolidação da cultura de direitos humanos, deve assegurar que os objetivos e as práticas a serem adotados sejam coerentes com os valores e princípios da educação em direitos humanos; 

2) A Educação em direitos humanos deve estruturar-se na diversidade cultural e ambiental, garantindo a cidadania, o acesso ao ensino, permanência e conclusão, à equidade (étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero, de orientação sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre outras) e a qualidade da educação. 

No entanto, esse plano ainda se mostra bastante utópico na prática. Em 2016, a Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil, realizada pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, revelou que no ano anterior:

  • 73% dos jovens entre 13 e 21 anos identificados como LGBT foram agredidos verbalmente na escola por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero; 
  • 60,2% afirmaram se sentir inseguros na instituição educacional por causa de sua orientação sexual;
  • 42,8% se sentiam inseguros por causa da maneira como expressavam seu gênero. 

Mais da metade dos alunos não têm com quem conversar sobre ser LGBTQIAP+

Uma pesquisa de 2017 da Stonewall apontou que quase metade dos estudantes britânicos LGBTQIAP+ entrevistados sofreram bullying na escola e, assustadoramente, um em cada oito tentou tirar a própria vida. Além disso, apenas 29% dos entrevistados relataram que seus professores interviram em situações de bullying LGBTfóbico; mais da metade dos alunos (53%) disseram não possuir um adulto na escola com quem pudessem conversar sobre ser LGBTQIAP+; 44% dos alunos trans disseram que os funcionários em sua escola não estavam familiarizados com o termo ‘trans’; um em cada três alunos trans não era tratado pelo seu pronome de tratamento correto na escola e 58% não tinham permissão para usar os banheiros que se sentiam confortáveis em usar. Esses dados reforçam a necessidade de uma discussão mais profunda sobre os desafios para assegurar o acesso à educação aos indivíduos LGBTQIAP+ no Brasil e no mundo. 

Diversidade nas escolas X transformação nas empresas

É ineficaz nos preocuparmos apenas com a sensibilização, educação e transformação dos espaços corporativos, enquanto ainda tivermos escolas despreparadas para lidar com a diversidade da comunidade queer. Bullying na escola, discriminação no local de trabalho e falta de apoio domiciliar podem ter um impacto devastador na saúde mental e impedir que os jovens LGBTQIAP+ atinjam seu verdadeiro potencial.

Quis trazer essa reflexão porque tenho certeza que em algum momento todos nós teremos filhos, sobrinhos ou irmãos frequentando o ambiente escolar e é nosso papel estarmos vigilantes para garantir que este seja um espaço que promova um desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes, onde não haja censura sobre ideologia de gênero ou orientação sexual, onde os professores estejam preparados e não perpetuem antigos tabus, onde haja ampliação sobre os conceitos de família, suas diferentes possibilidade de formatos e tamanhos, incluindo aquelas com pais do mesmo gênero. 

Indo além, as seguintes reflexões também deveriam ser prioritárias: essa escola permite a convivência do meu filho/sobrinho/irmão com crianças e professores de todas as raças? A escola é acessível para que crianças e professores com deficiências possam fazer parte dela? Crianças neurodiversas compõem o quadro de alunos? Também existem professores que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+? Existe equidade de gênero entre os professores? 

Não podemos permitir um retrocesso na agenda progressista por uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, a escolas de hoje precisa encontrar seu caminho para a diversidade, engajando as crianças no mundo das diferenças e as preparando para serem legítimos cidadãos. Se formos capazes de construir uma sociedade que abrace as diversidades desde a sua base, que inclui e não exclui, com certeza teremos muito menos trabalho pela frente para construir e fortalecer culturas corporativas que sigam o mesmo caminho. 

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